Wednesday, January 19, 2005

Livros - Budapeste - Chico Buarque

Mais Um Para a Estante

Hoje vou falar sobre um dos livros mais vendidos no Brasil. Budapeste, do Chico Buarque, que li em algumas horas nesse janeiro de 2005.

Como “bem vendido” no Brasil é sinônimo de “qualidade duvidosa”, comprei com um pé atrás. Minha vontade era levar algo do Saramago de inicio, porem meus pensamentos sofreram uma mudança ao ler o inicio da obra do compositor brasileiro.

Ainda assim contrariado, paguei com desgosto os trinta e dois reais e cinqüenta centavos para uma receptiva atendente na Saraiva, no Shopping Ibirapuera, na capital paulista.

Minha curiosidade para começar a leitura foi grande. Nunca tinha lido nada do autor. O medo de apologias ao comunismo também me desagradava, mas algumas páginas vermelhas não iriam manchar o romance, imaginei.

Algumas horas mais tarde observei que não tinha nada de subversivo ao regime de 1964 no romance. E, para ser sincero com o leitor, gostei das linhas do Chico. Um bom livro.

Porem, se você está disposto a comprar, e conseqüentemente gastar alguns reais na obra, não passe pelos caixas por impulso. O livro não é nada fantástico, e aqueles elogios de vários escritores na orelha não devem ser levados totalmente a sério. Nem o do Saramago. Talvez assim ele aprenda a parar de elogiar os livros alheios, deixei de comprar o dele por isso.

O livro conta a historia de um “ghost writer”, isto é, alguém que escreve textos, livros, discursos para os outros em troca de dinheiro. Como se eu estivesse pagando para alguém escrever esta resenha, e colocando o meu nome nela. Mas não suspeitem de mim, eu não tenho dinheiro suficiente para terceirizar os meus trabalhos.

Um dia essa pessoa, uma tal de José Costa, vai parar em Budapeste, capital da Hungria, em um problema com um vôo. O enredo se desenrola entre dois locais, este supracitado e o Rio de Janeiro, cidade natal do personagem. E entre dois amores, Luiza, a esposa Brasileira de José, e uma Húngara, já citada no primeiro parágrafo do livro.

Aliás, esse é o ponto forte do romance. O texto vai e volta, não segue uma linha perfeita de tempo. Ele utiliza o popular “flash back” nos pensamentos dos personagens para voltar, e antecipa o futuro algumas linhas depois, fantástico.

Outra grande jogada é colocar o próprio livro dentro dele mesmo. Como que uma metalinguagem, o romance como personagem no romance. Algo nem tão inovador, mas novo para a situação geral Brasileira. Interessou? Leia o livro.

Mas, nem tudo são flores para Buarque. A falta de criatividade e riqueza nos detalhes decepciona. Tudo é muito superficial, tudo é muito simples.

Não gosto de livros travados, que ficam monótonos quando o autor descreve cada mínimo detalhe (vide Senhor dos Anéis, no qual você pula páginas e continua sem problemas). Mas Chico exagerou na falta deles. O autor simplesmente não vai a fundo em nada, não descreve nada com alguma complexidade.

A grande pena é que, como boa parte do livro se passa fora do Brasil, na Hungria, que é um ambiente completamente diferente e desconhecido para nós, ele perde uma grande oportunidade de levar o leitor para dentro do país. Para o seu clima, as suas ruas, a sua beleza. Fica tudo muito “frio”, não é uma leitura entusiasmaste, excitante. Chico não sabe fazer o leitor sonhar.

Eu suspeito inclusive que o autor nunca esteve em Budapeste. Escreveu o seu livro com um mapa na mão. Tamanho o desperdício de palavras sobre a capital húngara.

A qualidade do material com que foi impresso livro também deixa a desejar. As folhas não são macias, e parecem ter uma qualidade bem baixa. Pelo preço que está sendo cobrado, poderiam ter caprichado mais.

O livro, como todos, tem pontos fortes e fracos. A leitura e gostosa e leve. Típico livro que você lê de uma só vez, em algumas horas. Porem não espere nada apaixonante, nem espere ser levado para a Hungria lendo. Se você quer algum livro que te tire do seu mundo, esse não é o mais recomendado.

Nota oito para Chico. Um livro muito interessante, mas nada divisor de águas na literatura nacional. Apenas mais um para a sua estante. E, se eu tivesse algum livro publicado, não gostaria de ser apenas mais um.